Sábado, 22 de Agosto de 2009

Foto de Albufeira
Quanto mais melhor. Ontem foi um desses dias, uma derrocada duma falésia, na praia Maria Luísa em Albufeira, provocou a morte de alguns infelizes veraneantes que por ali gozavam o seu período de descanso.
A comunicação social, como é óbvio, aproveitou para dar a devida cobertura e assim aumentar o alarde daquela triste situação. No fundo, “alimentar” as pessoas com a espectacularidade do desastre passou a ser esse o seu principal desígnio. Não interessa propriamente a notícia, mas sim a dimensão da desgraça.
Também alguns dos principais políticos portugueses não estiveram com meias medidas, foram àquele local “dar” o seu apoio e assim manifestarem toda a sua “preocupação” com as famílias e com a fortíssima fragilidade daquelas arribas algarvias.
Este lamentável acidente terá que ter obrigatoriamente consequências. O que ali aconteceu já há muito tempo se esperava. Aquela construção desenfreada, mesmo em cima das falésias, realizadas por alguns “pato bravos” da construção civil, com a aprovação e conivência de muitos autarcas, e ainda, com o “fechar de olhos” das entidades governamentais de fiscalização, só poderia dar maus resultados. Já há muito tempo que essa discussão existe, mas ninguém faz nada.
Não posso deixar de referir que se continua a aceitar a realização de mais disparates criminosos, como são exemplos alguns PIN´s. Com o propósito do “interesse nacional”, continua-se a permitir o desenvolvimento de projectos de grande construção e dimensão em zonas ecologicamente vulneráveis, como aquela em que ocorreu aquele acidente.
Essa sim, parece-me que deveria ser a principal reflexão e discussão a ter com esta matéria, para que o futuro possa ser mais sustentável para todos e com a vantagem de evitar desnecessárias vítimas.
António Costa da Silva
publicado por alcacovas às 13:34
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Fabi,
considero que, como político que és, compreendes perfeitamente o porquê de estarem ali políticos e até a necessidade de estar lá o ministro do ambiente. Uma tragédia desta dimensão acarreta muitas responsabilidades, sobretudo de quem zela pela segurança e bem estar da população, e acho muito importante estas pessoas estarem presentes. Se lá não fossem, aí sim haveria sinais de algum desprezo ou desinteresse pelo que ali se passou. Eu não estive lá, mas fiquei bastante impressionado com a situação, e só imaginei o que me poderia ter acontecido, a mim e a amigos meus, há duas semanas atrás enquanto dormíamos encostados a uma arriba em Portimão.
Posso até dizer que fiquei positivamente surpreendido pelas palavras do ministro Nunes Correia, uma figura que tem passado despercebida durante este mandato, a não ser pela questão da água, que se mostrou muito informado e conhecedor deste tipo de fenómeno/problema, sabendo exactamente o que os condiciona e desencadeia e as medidas mitigadoras e preventivas dos mesmos. Parece ser uma excepção à regra daquilo que se julga ser um erro crasso - colocar um engenheiro civil em ministro do ambiente.
Quanto à construção, não posso deixar de concordar que estas formas, que são as arribas, bastante vulneráveis do ponto de vista da dinâmica litoral, sobretudo as que ainda estão "vivas", e que uma matéria que deveria surgir eventualmente juntamente a esta notícia seria a da construção desenfreada e desordenada destes espaços, que em muito aumenta a perigosidade daqueles sítios (aumento da probabilidade de ocorrência deste tipo de fenómenos) e a vulnerabilidade, na medida em que mais pessoas e bens estão expostos ao perigo. Nenhum problema haveria se lá não estivessem pessoas, pois faz parte da evolução natural das arribas as chamadas derrocadas, designadas de movimentos de massa, assim como as cheias só são prejudiciais se atingirem pessoas e bens (muitos as encaram como um meio de excelência para fertilizar os campos agrícolas). E vai a ser tempo de maior sensibilização das pessoas nesse sentido. No sentido de que a “natureza” tem ciclos naturais de evolução e que somos nós que, muitas vezes, sem respeito nos cruzamos no seu “caminho”. Pena que a sensibilização muitas vezes só resulta através da desgraça. Depois de uma cobertura destas por parte da comunicação social, que me parece também exagerada, a verdade é que durante pelo menos alguns verões, as pessoas terão receio de se encostar de novo às arribas.
Mas aqui não foi o caso da construção a influenciar a derrocada. A parte que caiu já se encontrava destacada no meio da praia, sem qualquer tipo de construção a influencia-la. O que parece ter motivado a derrocada foi um sismo de 3ª feira, provavelmente associado já a uma ruptura na rocha.
Existiam lá avisos de que a arriba era perigosa e que era proibida a aproximação, para além de que esta questão já tem surgido muitas vezes na comunicação e em campanhas junto às praias. Se é suficiente ou não, isso é discutível.
A construção não ordenada nas arribas não é um problema de hoje, mas de sempre. Muitas localidades surgiram sobre arribas, muitos pescadores construíram lá as suas casas noutros tempos. Cada um faz as suas escolhas. Talvez de há uns 50 anos para cá se começaram a cometer alguns crimes contra o ordenamento do território e ambiente por parte dos governos contral e locais, sobretudo no Algarve, com a desafectação de áreas do Domínio Público Hídrico, para construção. Mas muitas vezes, sem informação e sem consciência disso, são as pessoas que motivam a desordem e a existência dos “patos bravos”. Assim como são elas que se expõem ao perigo.. Uma aposta na educação e na sensibilização, como em quase todas as matérias, é o caminho para uma melhor resolução dos problemas que afectam o domínio público.
Abraço,
B. Borges
Bruno,
Concordo com o que tu dizes. Esta minha reflexão tem a ver com a interminável senda à volta da aprovação de projectos de risco em zonas vulneráveis. É certo que já há muito tempo que isso acontece, mas também me parece que se deve acabar com essa degradação.
Um Abraço
Fabi
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