À medida que o sol nos vem aquecendo com maior convicção e que a energia e adrenalina aumentam em todos os seres vivos, marcamos a entrada de uma nova estação do ano, a Primavera, na qual há um espírito de renovação, de juventude e até de revolução, que nos atinge e nos “agita”. Parece que ninguém sabe ao certo do que se trata, mas a verdade é que acontece e é este espírito considerado uma das características mais marcantes desta época e o elemento que a torna tão especial.
A energia acumulada nos seres vivos durante a época de “dormência”, Outono – Inverno, tende a transformar-se em matéria e a “dar frutos” na Primavera. Todos sentimos que começamos a respirar novos ares e temos a sensação de que tudo se está a renovar e a animar na natureza.
Este efeito de “desabrochar” da natureza parece ser semelhante nos seres humanos. O aparente acumular de energia tende a transformar-se em novos pensamentos, em novas ideias, em alegria e em vontade de se lutar por aquilo que defendemos e sobretudo numa enorme necessidade de o exteriorizarmos. Assim como as plantas, que tendem a deitar cá para fora boa parte da sua beleza, as suas folhas e flores, nós humanos sentimos a forte necessidade de mostrarmos o que pensamos e as razões pelas quais lutamos.
Esta é, de facto, uma época marcada pela animação/agitação social, pela revolução/rebelião, pelo lançamento e construção de novas ideias/ideais e pela vontade comum de mudança. Naturalmente, cada um expressa-se à sua maneira, mas a verdade é que o objectivo de todos é comum e há uma tendência forte para a união. Não será por acaso que uma boa parte das revoluções ou o seu planear tiveram lugar nesta época (falemos de Abril-Maio-Junho). Muitas lutas por ideais tiveram lugar nesta altura e na sua maioria, e pela aderência e impacto que tiveram, forma bem sucedidas. Desde o planeamento do final da II Guerra Mundial em 1944, ao nosso 25 de Abril de 1974, passando pelo Maio de 68 (e outras mais), todas elas foram marcos históricos desta altura primaveril, e tiveram em comum a vontade de se lutar por ideais, contra as injustiças, ou pelos direitos fundamentais do Homem ou pelos direitos civis, políticos e de liberdade de expressão. Enfim, todas tiveram em comum o soltar dum “grito de revolta” e a luta por uma vontade comum..a Liberdade, independentemente do seu tipo ou forma.
Reconheço sempre esta estação do ano como a época em que, para além do nosso preenchimento por animação/agitação e alegria, se lutou pelo mais básico de todos os direitos: o direito à Liberdade, nas suas mais variadas formas. Para nós portugueses foi precisamente o mês de Abril que nos abriu as portas para a liberdade de expressão, de participação na vida cívica e política. Foi, de facto, uma das maiores conquistas do nosso povo e devemos ser eternamente gratos aos que deram voz a esta luta, esta revolução, aos que deram o “grito de revolta”, aos que exteriorizaram a sua energia, a sua luta. A eles devemos a nossa liberdade de discussão, a liberdade de participarmos activamente nas questões políticas e sociais sem medo e sem censura. A eles devemos até o simples facto de estarmos a debater ideias num “blog” sem que tenhamos de pensar se o podemos fazer ou não.
A eles devemos muito respeito; respeito esse que se deverá traduzir essencialmente na forma como usufruímos da nossa liberdade de expressão. Não há de certo um código que nos diga qual a forma correcta de “utilizarmos” a nossa liberdade, pois ela é isso mesmo; mas uma coisa é certa, não será a “deitar abaixo” a iniciativa dos outros, em denegrir a obra e as intenções dos que lutam por contribuir positivamente que a estaremos a utilizar de forma correcta. Penso que ninguém se opõem quando se diz que a liberdade deve servir acima de tudo para contribuir positivamente e para nos ajudarmos mutuamente (sociedade) a moldarmos as nossas oportunidades.
O mau uso da liberdade de expressão normalmente tem consequências negativas e, como se pôde constatar nos últimos dias no blog, há todo um mau ambiente que se gera nos debates. Existiu uma falta de respeito pela liberdade de expressão e o caminho a seguir a partir daí foi o da degradação do diálogo, do “deitar abaixo”, do desrespeito pelas liberdades individuais.
Seria bom que todos, conscientes da gratidão e respeito que devemos pela nossa liberdade de expressão, a utilizássemos de forma construtiva, produtiva.
Deveremos aproveitar toda a energia que anda no ar para exteriorizar as nossas ideias, pensamentos, tendo ao mesmo tempo a preocupação ou o objectivo de participar de forma construtiva, de atingirmos o bem comum, assim como fizeram os lutadores pela liberdade de Abril.
Sejam livres, participantes, críticos construtivos, lutadores pelo bem comum. Dêem a cara pelos vossos ideais e ideias, pela vossa liberdade de expressão, por aquilo que são – livres pensadores, livres participantes, membros da sociedade, parte essencial para o seu crescimento e evolução! Bem hajam!
B. Borges
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