Terça-feira, 22 de Novembro de 2005
Mudar sem reformar
Dia após dia lemos, ouvimos, discutimos os problemas que nos assolam e que se vão agravando, insensíveis às medidas propostas e aplicadas pelos nossos Governos.
Todos criticam o que se faz e o que não se faz. E, devemos reconhecer, muitas dessas criticas são convincentes, inteligentes e assinadas por pessoas competentes, com curricula invejáveis.
Na realidade temos gente de elevado nível em diversas áreas, tão competentes como os melhores de qualquer outro país.
O nosso insucesso não reside na falta de pessoas capazes, mas sim na incapacidade de levar a cabo as mudanças que invariavelmente todos reconhecem serem indispensáveis.
A questão fundamental está no querer, ou não, mudar o nosso modo de vida, de aceitar toda e qualquer mudança importante.
Os políticos não querem mudanças profundas no sistema eleitoral, não querem mexer na Constituição, não querem perder poder, não querem descentralizar.
Os funcionários públicos não querem mexer no sistema burocrático vigente, não querem simplificar, não querem mudar regulamentos, não querem reconhecer que muito do que fazem não serve para nada, antes pelo contrário.
Os juristas não querem ser criticados, não querem mudar o sistema legal criado laboriosamente para justificar e cimentar os seus poderes, não querem leis simples, claras e eficazes.
Os médicos não querem mais escolas de medicina, não querem muitos licenciados novos, não querem gestores profissionais à frente dos hospitais e centros de saúde.
Eu e todos os outros portugueses não queremos mudar nada que nos prejudique, não queremos pagar mais impostos, não queremos trabalhar mais, não queremos mais responsabilidades, não queremos que venham avaliar o que fazemos.
Ninguém quer mudar, mas todos achamos que os outros devem mudar.
Este é o cerne da questão, se não mudarmos a nossa atitude e maneira de pensar. Se não abdicarmos do conceito, muito português, de não me chateiem que eu cã me vou desenrascando.
Os outros, que são todos os que não pertencem ao nosso clã, que mudem primeiro. Não sou eu que vou mudar, que vou abdicar do que tanto me custou a conseguir, quando os outros não fazem nada.
Não queremos mudar, mas pensamos que é preciso fazer alguma coisa. Mas isso não é connosco, não queremos participar nem colaborar. Prevalece o nosso egoísmo caseiro, uma espécie de autodefesa congénita, desenvolvida ao longo de anos (ou séculos).
Os nossos problemas têm soluções, as soluções estão definidas, até já foram profundamente analisadas, temos excelentes técnicos, políticos capazes, temos jovens bem preparados, mas não temos a coragem de mudar, de enfrentar os sacrifícios inevitáveis, não tanto os sacrifícios a impor a terceiros, mas sobretudo os auto sacrifícios.
André Correia
22/11/2005
publicado por alcacovas às 22:36