O Museu do Chocalho em Alcáçovas No concelho de Viana do Alentejo, na lindíssima vila de Alcáçovas, um artesão chocalheiro, apaixonado pelo seu ofício, foi fazendo da oficina um museu.
“Chamo-me João Chibeles Penetra, tenho 75 anos, e nasci em Alcáçovas em…”, assim começa o mestre a sua apresentação e a do museu que criou na própria oficina, para que fique testemunho de uma “arte” que um dia poderá ser devorada pela globalização. “As pessoas vinham visitar a minha colecção de chocalhos e eu, inda bem não, ouvia dizer: há um segredo para fazer um chocalho. E eu um dia deitei-me e veio-me à ideia de mostrar, da primeira fase até à última, como se faz o chocalho, para as pessoas verem que não há segredo nenhum. É preciso aprender-se como se aprende outro ofício qualquer(...)”
Pela devida ordem, que por ali não se usa nem nunca se usou a produção em série, automática e anónima, cada chocalho, grande - manga, sem serra, castelhano - ou pequeno – chocalho, campanilha, picadeiro, chocalhinho – tem um percurso próprio, um som exclusivo, como que uma identidade única.
Riscar e talhar a folha de ferro – “Eu explico. A gente não vai fazer dois chocalhos, ou cinco chocalhos ou seis chocalhos e dizer assim vou fazer estes chocalhos e saem com aquele som, não senhor, não somos capazes, nem ninguém sabe. A gente calcula a folha que vai aplicar a determinado tamanho de chocalho e põe-lhe o metal, mais ou menos, nuns e noutros; isto não tem peso nem medida, e um calculo da gente, da grande experiência que tem, pode num pôr um bocadinho mais noutro um bocadinho menos, quando está a talhar com a tesoura, não é com aquela medida exacta, e a olho, e portanto, pode cortar mais, pode cortar menos, e quando está a fabricá-lo, a molda-lo, pode-se fechar ou abrir mais a boca, conforme o talhe que se tire e aí oscila logo o som. Para tirar um dúzia de chocalhos com o mesmo som tenho que fazer cem para tirar esses doze com o som mais ou menos igual (…).”
Enrolar, pôr o céu e a asa - "Depois começa-se a moldar - chama-lhe a gente enrolar o chocalho - com o martelo, na bigorna; faz esta composição, dobrou, chama-lhe a gente meter os cantos, que é para fazer a orelha do chocalho onde segura a asa para pendurar, p'ra meter a coleira e segurar ao pescoço do animal. A seguir abre-se um buraco que é para meter o céu, onde se pendura o badalo para fazer tocar o chocalho - a gente corta umas tiras da própria chapa ao tamanho do chocalho que está a fazer. À ponta faz-lhe as pestanas. (…)O nome céu já vem de muito atrás. Uma das vezes vou a uma feira, à feira de Garvão, e há um moiral que olha p'ra mim e diz-me assim: Ó amigo, você sabe qual é o mestre que trabalha mais alto que todos? E pá, eu nunca tinha ouvido isso e disse: não sei, não senhor. Então você não sabe ? Pois claro que não. É o chocalheiro, porque trabalha por cima do céu (do céu do chocalho), quando está a pôr a asa. Portanto o céu está aqui e agora põe-se a asa aqui por cima. (…)” Por as marcas – "A seguir é que se põem as marcas de fabricante ou de casas agrícolas. Esta marca que está aqui é minha, esta outra era do meu pai (…)”
E ainda: Embarrar. Soldar ou cobrear. Rebolar. Dar água. Temperar ou afinar. Por o badalo – embadalar.
Para terminar, um fecho, fecho de coleira, esta feita à medida aproximada do cachaço ou cabeçorra do animal. “Depois veio a cágueda que é de madeira, que é aí que eu digo que há cáguedas muito bem feitas, cáguedas arrendadas a bico de navalha, feitas pêlos moirais, que nesse tempo quando andavam nos burros e nas éguas tinham tempo para fazer isso tudo e agora é um bocado de pau e pronto! Faziam-nos com raízes de azinheira, que é uma madeira branda antes de ver o Sol, mas depois de trabalhada e de seca é ferro. Foi o próprio vaqueiro que me explicou isto tudo (…)”
O que aqui se transcreve, é em parte feito a partir do estudo e recolha etnográfica de José Monarca Pinheiro. Mas as palavras, puras e autênticas, repetidas sem enfado nem monotonia ao longo de anos de labor ou na orgulhosa mostra dos variadíssimos exemplares de chocalhos e mangas, são as mesmas que ouvimos do Sr. João Chibeles Penetra, “o Mestre que trabalha por cima do céu”. MPA
Ver em: http://aaldraba.blogspot.com/2005_03_01_aaldraba_archive.html
Editado por António Costa da Silva
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