Esta semana teve como principal acontecimento a tragédia que ocorreu na ilha da Madeira. Infelizmente este triste acontecimento leva-nos a tirar uma série de conclusões. Se calhar a maioria delas poderão ser precipitadas.
O que mais me impressiona quando ocorrem estas catástrofes são as muitas vidas que se perdem. Pensar naquelas famílias que perderam os seus entes queridos, sobretudo de uma forma tão brusca e trágica, é algo altamente comovente. Quando olho para os danos materiais causados é triste, mas sei que tudo será recuperado e voltará certamente à normalidade.
Na fase posterior à tragédia, torna-se fundamental a solidariedade das populações e das instituições. Aqui, podemos afirmar com toda a segurança que os madeirenses, as suas instituições e as do continente, têm sido incansáveis e vão continuar a sê-lo, de certeza absoluta. Este aspecto deve ser claramente realçado. É muito triste ver estas tragédias acontecerem em países terceiros, mas é mais marcante ainda quando acontecem aos nossos.
Uma coisa é certa, a solidariedade que tem vindo a ser dada à Madeira é genuína, não é retórica pura. Isso é muito bom sinal. Os portugueses gostam de causas e a Ilha da Madeira passou a ser uma causa nacional. Ainda bem que é assim.
A questão que me parece mais importante a partir de agora é recuperar tudo o que foi danificado e pôr tudo a funcionar o mais rapidamente possível. Repor a normalidade é a melhor forma de ultrapassar as dificuldades e prosseguir em frente. No entanto, parece-me óbvio que devemos aprender com os erros e procurar soluções mais adequadas. Como dizia Orson Welles, a experiência é um acumular de erros cometidos ao longo dos anos.
Quando acontecem este tipo de tragédias, é clássico começar-se a procurar imediatamente culpados para os sentar no banco dos réus. No caso da Madeira, a vontade de culpar o Governo Regional é muito mais entusiasmante. Fazer do Dr. Alberto João Jardim um “bode expiatório” é um disparate enorme. As tentativas são e serão inúmeras, mas não acredito que sejam positivas e que obtenham quaisquer resultados.
Nestas tristes situações aparecem sempre os profetas da desgraça a apontar para os erros cometidos ao longo dos anos. Uns dizem que tudo se deve à construção desenfreada e desordenada, outros ao mau uso do solo ou outras causas, tais como: o afunilamento do leito das ribeiras, a desflorestação, a volumetria desproporcionada dos edifícios, etc, etc.
Ninguém tem dúvidas que existem erros cometidos ao longo de muitos anos. Visto nesta perspectiva, o nosso País tinha que ser parcialmente derrubado. Basta olhar para o Algarve para contemplarmos o triste ordenamento do território. Basta ver a forma como cresceram as nossas cidades e zonas suburbanas. Basta ver o tipo de construção que temos em todo o território nacional. Basta chover um pouco a mais para muitas das nossas cidades e vilas ribeirinhas ficarem inundadas. Basta vir um temporal com alguma dimensão, como aconteceu na região do Oeste, para percebermos que a maioria daquelas estufas que foram destruídas, nem sequer estava legalizada. Infelizmente, o nosso País é mesmo assim.
Esta situação faz-me lembrar a história de uma juíza italiana que veio visitar Portugal. A senhora andava acompanhada com alguns colegas portugueses. Num desses dias da visita questionou as características dalgumas casas portuguesas (azulejos no exterior, alumínios, telhados de betão, pinturas muito estranhas, etc) e do desordenamento do território. Alguém se prontificou a justificar aquela situação, dizendo que em Portugal há um problema de corrupção e que tudo se deve a isso. A senhora juíza italiana disse que não acreditava que houvesse mais corrupção em Portugal do que em Itália, mas que temos sim, um problema claro de mau gosto.
Na verdade, estas situações proliferam por toda a parte. É também verdade que devemos combater este problema que tem e vai continuar a funcionar como uma desvantagem competitiva de Portugal. Este é um daqueles problemas que só se resolve apostando na educação. Aquele problema de mau gosto (apresentado pela senhora juíza) tem a ver com isso mesmo, só melhorando o nível cultural, de educação, participação e cidadania da nossa população é que é possível começar a minorar este problema.
Também é verdade que temos situações onde tem havido progressos significativos ao nível do ordenamento do território e dos modelos de construção adoptados. Felizmente que a região Alentejo é um bom exemplo nestes domínios. Apesar de ter muito para melhorar, comparativamente, é um bom exemplo.
Para concluir, parece-me mais importante apontar para os problemas de uma forma construtiva, apresentando propostas e soluções. Não me parece oportuno aproveitar uma catástrofe para se fazer política, mas sim ajudar quem mais precisa. É aí que nos devemos concentrar.
Estou convencido que a Madeira vai recuperar mais rapidamente toda aquela zona que foi altamente devastada do que acabar com a desobstrução da CREL na zona de Lisboa, que há muitos dias começou.
António Costa da Silva
Publicado dia 28/02/2010 no 