Sábado, 7 de Janeiro de 2006

Cavaco Silva com o Alentejo, ou não!

No último artigo publicado neste blog, da autoria de António Costa da Silva foi pedido que se falasse só verdade em relação a Aníbal Cavaco Silva. Pois bem é precisamente isso que eu irei fazer.

Começo por falar da curva de Phillips que foi apresentada como sendo prova da obra “Napoleónica” de Cavaco em Portugal (embora este nada tenha feito para tal, como provo de seguida). A curva de Phillips é uma relação inversa entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação. De facto quando Cavaco Silva esteve no governo esta curva teve períodos em que não se verificou, o que é pena é não ter sido aqui referido o porquê da não verificação da curva de Phillips; mas como foi pedido que se falasse somente verdade eu assim o farei, a dita curva não se verificou, não devido à “maravilhosa” obra de Cavaco mas sim devido a uma conjuntura externa favorável.
Quem não se lembra que foi à 20 anos que entramos para a então CEE, recebendo milhões e milhões de euros?
E agora pergunto eu, quem não se lembra da queda do preço do petróleo para metade em 1986? Do preço que tinha vindo a verificar desde os dois choques petrolíferos o primeiro em 1973/1974 em que o preço do petróleo triplicou e o segundo em 1978/1979 em que o preço do petróleo duplicou.
Não me diga o meu caro amigo que foi Cavaco Silva quem fez com que o preço do petróleo descesse nos mercados internacionais?
Quem não se lembra dos milhões e milhões de euros em fundos estruturais que entraram em Portugal? Para quê? Para Cavaco Silva fazer catorze actos de caridade no Alentejo!? Mas já iremos aos actos de caridade.
Será que as pessoas do nosso país já não se lembram do homem que mandou a forças policiais carregarem sobre os manifestantes na ponte 25 de Abril? Que mais parecia um triste espectáculo digno de qualquer país da América Latina.

Como o meu caro amigo certamente sabe os fundos estruturais também serviram para cursos de formação profissional, muitos para pessoas que estavam no desemprego fazendo com que estas saíssem desta situação e passassem a estar em formação, pois isso também contribuiu para a diminuição do desemprego.
Mas também podemos falar em pleno emprego, outros dos feitos “bíblicos” de Cavaco Silva, pois bem, como o meu caro amigo sabe ou pelo menos deveria saber o pleno emprego no nosso país situa-se entre os 4.5% e os 5%, estes valores de desemprego correspondem ao desemprego voluntário ou residual. Em alturas dos governos de Cavaco Silva estes níveis verificaram-se e estivemos de facto em pleno emprego em alguns momentos, mas também no tempo do Eng.º Guterres nós atingimos os níveis do pleno emprego (onde está o tal mérito de que as pessoas não se esquecem?).
Podemos também falar das auto-estradas, obras que muito úteis tem sido para o nosso país e ai estamos de acordo, mas enquanto Cavaco Silva se preocupava com as auto-estradas os espanhóis e os irlandeses apostavam na modernização do seu tecido empresarial, assim como na formação e no ensino e com resultados que hoje todos vemos. Tendo já a Irlanda dispensado os últimos apoios comunitários e a Espanha apresentado um superavide de cerca de 1% do PIB nas suas contas públicas.


Falemos então do Alentejo, do Alentejo por quem Cavaco Silva tanto fez, que os níveis de desemprego continuam a ser os mais altos do nosso país, falemos do Alentejo e olhemos para o envelhecimento da população, falemos do Alentejo onde com os fundos comunitários foram instaladas tantas empresas e indústrias que os alentejanos foram obrigados a migrar ou a emigrar para poderem sobreviver, falemos do Alentejo e dos alentejanos, mas sejamos sérios para com eles, não os tentemos enganar com demagogias económicas, nem palavras bonitas.
Aos catorze pontos de caridade que o meu amigo expôs como sendo a obra “Napoleónica” de Cavaco Silva no nosso Alentejo terei que fazer alguns reparos:

1) A barragem do Alqueva é um projecto do antigo Estado Novo, que hoje em dia serve para os portugueses irem a pesca ao fim de semana e para os espanhóis utilizarem a sua água para as suas culturas;
2) A agricultura não teve um processo difícil, esta pelo contrário quase desapareceu pois foi obrigada a alterar o seu modo de produção e aqui concordo consigo, começando pois a fazer-se “sementeiras” e “culturas de regadio” de jeep´s e de casas no Algarve;
3) Será que o facto de a Universidade de Évora estar a perder alunos se deve ao facto de Cavaco Silva já não ser primeiro-ministro, eu penso que não, deve-se sim ao facto da Universidade de Évora ter entrado pelo caminho mais fácil, o caminho do facilitismo, nas também devido ao legado de Cavaco com a desertificação do Alentejo os aluno alentejanos cada vez são menos e isso leva a que a Universidade tenha cada vez menos alunos, pois os alunos preferem ou ficar na sua área de residência ou estudar nas grandes Universidades portuguesas;
4) Sabe por acaso o meu amigo que os dois politécnicos de que falou correm sérios riscos de manutenção? Depois de anunciadas as novas regras de acesso ao ensino superior que obriga todos os alunos (e bem) a terem pelo menos 9.5 nos exames nacionais, ora isto a juntar-se ao facto da desertificação do Alentejo faz com que estes politécnicos tenham cada vez menos alunos correndo o risco de talvez num futuro muito próximo que se fechem alguns cursos ou até mesmo no caso extremo fecharem-se algumas instituições. Mas ainda bem que fala nos politécnicos, pois como o meu caro amigo sabe o seu objectivo quando foram criados era a formação de técnicos e o que tem vindo a acontecer desde a sua formação é um concorrência entre estes e as universidades que acaba por ser prejudicial para ambos;

Recordo ao meu caro amigo que mesmo que Cavaco Silva vença as eleições ele irá ser como já se deve ter percebido Presidente da Republica e espero que o meu caro amigo saiba que as funções de Presidente da Republica são diferentes das funções de primeiro-ministro e é a este que cabe governar não ao Presidente da Republica.
Aqueles que acreditam cabalmente na vitória de Cavaco Silva, e vem nele o salvador da nossa pátria, eu a esses deixo um poema de Fernando Pessoa com o qual podem partilhar a nostalgia e a esperança da vinda do salvador El Rei Dom Cavaco, desculpem enganei-me, El Rei Dom Sebastião:

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer.

Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa querer.
Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!

De facto fico com uma certa tristeza que muitas vezes a ideologia cega de muitos políticos os faça distorcer a verdade em abono daquilo que eles querem que seja a sua verdade, e que essa distorção da verdade sirva muitas das vezes para jogadas de interesses partidários. Por isso meu caro amigo já mais me resignarei a dizer o que penso, em buscar a verdade e em ser sincero para comigo e para com os outros.
Meu caro amigo e caros leitores termina aqui a minha resposta cujo o único e humilde objectivo foi falar só verdade sobre Cavaco Silva e do seu legado para o Alentejo e para o nosso país.
rmgv


publicado por alcacovas às 14:07
De Anónimo a 7 de Janeiro de 2006 às 18:12
Eu não me referi apenas ao teu comentário, apenas respondi ao teu porque era o ultimo. Mas referia-me a um conjunto deles que foram surgindo com o decorrer da campanha eleitoral. Eu não tenho nada contra esses comentários de carácter político, apenas considero que há outros locais onde isso se poderá fazer e para falarmos de Alcáçovas acho que só temos este. AbraçoRoberto Vinagre
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(mailto:roberto_vinagre@hotmail.com)
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